“O cinema está morto, diz o britânico Peter Greenaway. Diretor de "O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante" (1989), "A Última Tempestade" (1991) e "O Livro de Cabeceira" (1995), ele veio a São Paulo nesta semana para fazer uma palestra da série Fronteiras do Pensamento.
Greenaway acredita que
o cinema narrativo (aquele que se limita a contar histórias, como se fosse um
romance, muitas vezes recorrendo mais à palavra do que às imagens) já deu o que
tinha para dar, e que o audiovisual precisa começar de novo, a partir do zero.”
Sérgio Rizzo – Ultrapop – 08/05/2012
Em minha modesta opinião de cinéfila acho que não é o cinema
narrativo que está morto, mas sim a criatividade das novas ideias. Cada vez
mais vemos remakes e estórias antigas recontadas de outra forma, além das
intermináveis continuações (sequências) que já foram até motivo de piada em
outros filmes (Tubarão 19 em cartaz em De Volta para Futuro 2).
Nada contra as continuações, mas a moda das “trilogias” é um
pouco demais. Por que não se pode contar uma estória em um ou dois filmes? Tem
que ser sempre em três ou múltiplos???
O artigo acima diz que os investimentos de Hollywood em
filmes 3D comprovam esta teoria. Eu acho que o 3D surgiu como uma “distração”,
como uma forma de desviar nossa atenção do fato de que não há estórias novas,
só novos meios de contá-las.
E embora Hollywood esteja investindo em filmes 3D, a
motivação não é só “dar nova vida ao cinema”, é também buscar uma forma de
diminuir a pirataria, pois ainda não conseguiram piratear um filme com seus
efeitos 3D. No entanto, a Academia (Oscar) tem dado sinais de que prefere boas
estórias, contadas a preços razoáveis, do que superproduções que já ultrapassaram
em muito a casa dos 100 milhões de dólares.
Para mim, não há efeito especial mais poderoso do que a
mente humana. Um cineasta que é capaz de contar uma estória tão envolvente de
forma que o espectador se sinta “capturado” e a vivencie junto com os personagens
tem um sucesso garantido nas mãos, porque isto é que é o cinema:
entretenimento, diversão. Uma pessoa entrar em um cinema, carregada com seus
problemas diários, e sair de lá mais leve e feliz porque assistiu a uma bela
estória. E durante o tempo que durou a projeção do filme simplesmente
esqueceu-se de tudo e se concentrou no que estava na telona.
Eu acho que cinema, por tudo que pode oferecer em termos de
entretenimento, deve ser uma diversão ao alcance de todos, daqueles que podem
ter uma super cadeira que se mova junto com o filme até aquele que assiste ao
filme em uma televisão através do vidro de uma vitrine.
Lembram-se de “A Rosa Púrpura do Cairo”? Não vamos discutir
o filme porque nem todo mundo gosta de Woody Allen, mas neste filme ele representou
o que é a minha ideia de um bom filme, quando o espectador entra no filme e
sente-se parte da trama.
Recentemente tenho prestado atenção a estórias que sejam
capazes de envolver o espectador e cito algumas: Guess who’s coming to dinner
(Adivinhe quem vem para jantar). Quem não se emociona com o discurso final de
Spencer Tracy? Essa é uma estória de 1967 e acho que podemos dizer que ainda se
repete por ai...
Secretariat
(2010), como não se emocionar no final da corrida ao ouvir as palavras do
Livro de Jó (capítulo 39), quando Deus descreve os cavalos: versículo 22 “It laughs at fear, afraid of
nothing; it does not shy away from the sword”, versículo 24 “In frenzied excitement it eats
up the ground; it cannot stand still when the trumpets sounds”. Quem já
teve a oportunidade de assistir a uma corrida de cavalos sabe quão apropriadas
essas palavras são, porque eles não conseguem ficar imóveis ao som das
trombetas...
How to train your dragon (Como treinar o seu dragão): quem
não quer um dragão como “Toothless”? Eu só não o chamaria de “Sem dentes”, mas
eu queria ter um dragão como ele, não tenham dúvidas.
Ainda há esperança, mesmo com tantas refilmagens (a última
que fiquei sabendo é Carrie, a estranha), de vez em quando surge uma ideia
cativante, um dragão, um cavalo, um homem ou mulher... E embora sejam boas
“distrações” eu não preciso de 3D ou 4D para realmente apreciar um bom filme.
Pensem em Chaplin, que não precisava muito mais do que sua bengala para nos
contar uma linda estória...
Para finalizar lembrei-me de “A História sem Fim” (Die
unendlich Geschichte – 1984), pois a minha ideia de se envolver com o filme
pode ser representada pelo menino Barret montando o dragão Falkor e seguindo em
suas aventuras. E não é que há outra “Neverending Story” anunciada para 2014?
Laura Furtado é cinéfila, esposa de cinéfilo, craque no Bolão do Oscar e colaboradora de artigos do WCinema
0 comentários:
Postar um comentário