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domingo, maio 13, 2012

ONDE FOI PARAR O CINEMA?

por Laura Furtado















O cinema está morto, diz o britânico Peter Greenaway. Diretor de "O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante" (1989), "A Última Tempestade" (1991) e "O Livro de Cabeceira" (1995), ele veio a São Paulo nesta semana para fazer uma palestra da série Fronteiras do Pensamento.

Greenaway acredita que o cinema narrativo (aquele que se limita a contar histórias, como se fosse um romance, muitas vezes recorrendo mais à palavra do que às imagens) já deu o que tinha para dar, e que o audiovisual precisa começar de novo, a partir do zero.

Sérgio Rizzo – Ultrapop – 08/05/2012

Em minha modesta opinião de cinéfila acho que não é o cinema narrativo que está morto, mas sim a criatividade das novas ideias. Cada vez mais vemos remakes e estórias antigas recontadas de outra forma, além das intermináveis continuações (sequências) que já foram até motivo de piada em outros filmes (Tubarão 19 em cartaz em De Volta para Futuro 2).

Nada contra as continuações, mas a moda das “trilogias” é um pouco demais. Por que não se pode contar uma estória em um ou dois filmes? Tem que ser sempre em três ou múltiplos???

O artigo acima diz que os investimentos de Hollywood em filmes 3D comprovam esta teoria. Eu acho que o 3D surgiu como uma “distração”, como uma forma de desviar nossa atenção do fato de que não há estórias novas, só novos meios de contá-las.

E embora Hollywood esteja investindo em filmes 3D, a motivação não é só “dar nova vida ao cinema”, é também buscar uma forma de diminuir a pirataria, pois ainda não conseguiram piratear um filme com seus efeitos 3D. No entanto, a Academia (Oscar) tem dado sinais de que prefere boas estórias, contadas a preços razoáveis, do que superproduções que já ultrapassaram em muito a casa dos 100 milhões de dólares.

Para mim, não há efeito especial mais poderoso do que a mente humana. Um cineasta que é capaz de contar uma estória tão envolvente de forma que o espectador se sinta “capturado” e a vivencie junto com os personagens tem um sucesso garantido nas mãos, porque isto é que é o cinema: entretenimento, diversão. Uma pessoa entrar em um cinema, carregada com seus problemas diários, e sair de lá mais leve e feliz porque assistiu a uma bela estória. E durante o tempo que durou a projeção do filme simplesmente esqueceu-se de tudo e se concentrou no que estava na telona.

Eu acho que cinema, por tudo que pode oferecer em termos de entretenimento, deve ser uma diversão ao alcance de todos, daqueles que podem ter uma super cadeira que se mova junto com o filme até aquele que assiste ao filme em uma televisão através do vidro de uma vitrine.

Lembram-se de “A Rosa Púrpura do Cairo”? Não vamos discutir o filme porque nem todo mundo gosta de Woody Allen, mas neste filme ele representou o que é a minha ideia de um bom filme, quando o espectador entra no filme e sente-se parte da trama.

Recentemente tenho prestado atenção a estórias que sejam capazes de envolver o espectador e cito algumas: Guess who’s coming to dinner (Adivinhe quem vem para jantar). Quem não se emociona com o discurso final de Spencer Tracy? Essa é uma estória de 1967 e acho que podemos dizer que ainda se repete por ai...

Secretariat (2010), como não se emocionar no final da corrida ao ouvir as palavras do Livro de Jó (capítulo 39), quando Deus descreve os cavalos: versículo 22 “It laughs at fear, afraid of nothing; it does not shy away from the sword”, versículo 24 “In frenzied excitement it eats up the ground; it cannot stand still when the trumpets sounds”. Quem já teve a oportunidade de assistir a uma corrida de cavalos sabe quão apropriadas essas palavras são, porque eles não conseguem ficar imóveis ao som das trombetas...

How to train your dragon (Como treinar o seu dragão): quem não quer um dragão como “Toothless”? Eu só não o chamaria de “Sem dentes”, mas eu queria ter um dragão como ele, não tenham dúvidas.

Ainda há esperança, mesmo com tantas refilmagens (a última que fiquei sabendo é Carrie, a estranha), de vez em quando surge uma ideia cativante, um dragão, um cavalo, um homem ou mulher... E embora sejam boas “distrações” eu não preciso de 3D ou 4D para realmente apreciar um bom filme. Pensem em Chaplin, que não precisava muito mais do que sua bengala para nos contar uma linda estória...

Para finalizar lembrei-me de “A História sem Fim” (Die unendlich Geschichte – 1984), pois a minha ideia de se envolver com o filme pode ser representada pelo menino Barret montando o dragão Falkor e seguindo em suas aventuras. E não é que há outra “Neverending Story” anunciada para 2014?

Laura Furtado é cinéfila, esposa de cinéfilo, craque no Bolão do Oscar e colaboradora de artigos do WCinema


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