Por Laura Furtado
Todos os anos, a premiação da Academia (Academy of Motion
Pictures Arts and Sciences) mexe com todos nós, seja para torcer por aquele
filme que adoramos e (por um milagre) conseguiu ser indicado, seja para
participar de um bolão, seja para ver atores, atrizes, diretores, etc, em suas
roupas de gala chegando e cruzando o tapete vermelho.
E sempre há alguma surpresa, boa ou não tão boa assim,
porque se fosse como todos esperam, não seria o Oscar. Grande parte do atrativo
desta premiação está na imprevisibilidade dos resultados. Porque certos prêmios
realmente não fazem muito sentido, considerando os concorrentes. E este ano não
foi exceção.
Primeiro, gostaria de comentar sobre a famosa “diversidade”
do Oscar. Para ser sincera, nunca vi tantos atores afro-americanos apresentando
os prêmios. Nada contra, muito pelo contrário, mas gostaria de apontar dois
comentários sobre a situação, primeiro de Whoopi Goldberg, quando a polêmica
começou. Ela disse algo como: o problema é que não há bons papéis, não há
filmes para negros. Então a questão não é que somente brancos foram indicados
esse ano, mas que os negros não foram indicados porque não há papeis de
destaques para eles, para que possam concorrer ao Oscar.
Segundo de Chris Rock: “este com certeza não foi o primeiro
Oscar que não houve negros indicados, o caso é que antes haviam coisas mais
importantes para protestar”. Ainda acho que há coisas mais importantes para
protestar, mas este ano foi a “diversidade”.
Agora vamos às premiações: filme da noite – Mad Max: Fury
Road. Como disse nas minhas escolhas para o Oscar, Mad Max deveria levar todas
as categorias técnicas. E assim foi, ou quase...
Categorias técnicas: melhor edição, melhor fotografia,
melhores efeitos visuais, melhor edição de som, melhor mixagem de som, melhor
direção de arte, melhor figurino, melhor maquiagem. Mad Max concorria em todas
essas categorias (8) e levou seis (6). As duas que perdeu foram melhor
fotografia (O Regresso – The Revenant) e melhores efeitos especiais
(Ex-Machina).
Aqui abordamos a maior surpresa da noite. Os indicados a
melhores efeitos especiais eram: Ex Machina; Mad Max: Estrada da Fúria; Perdido
em Marte; O Regresso; Star Wars: O Despertar da Força.
Neste caso, eu vi todos estes cinco filmes e digo a vocês, o
último que esperaria ganhar é Ex-Machina, porque se compararmos os efeitos
especiais destes filmes o mais “simples” é de Ex-Machina. Na hora me lembrei do
Oscar de 2000, quando Beleza Americana (American Beauty) ganhou. Todos os
demais concorrentes eram filmes muito mais interessantes do que o saco plástico
(na minha modesta opinião, o ponto alto do filme e pelo qual ele é lembrado até
hoje). Para lembrá-los: Regras da Vida (The Cider House Rules), À Espera de um
Milagre (The Green Mile), O Informante (The Insider), O Sexto Sentido (The
Sixth Sense). De todos esses, acho que o Sexto Sentido é o mais lembrado,
seguido por À Espera de um Milagre. Beleza Americana é lembrado pelo saco
plástico, que se tornou piada em alguns outros filmes.
Eu não gostei de Ex-Machina, embora se deva prestar atenção
ao tema (o que criamos e que pode se voltar contra nós). Quando vi a “robô”,
logo pensei: como isso foi feito? Veste-se a atriz com um macacão verde e
depois se coloca as imagens. Aparentemente não foi esse o efeito especial
usado, mas mesmo assim. Oscar de Melhores Efeitos Especiais deve ir para um
filme que nos surpreenda, onde esses efeitos chamem a atenção. A parte esse
pensamento de como foi feito, depois me concentrei no filme e concordei com a
indicação para Melhor Roteiro Original. O roteiro me chamou muito, muito mais
atenção dos que os efeitos. Na foto, efeitos especiais de Ex-Machina.
E se voltarmos um pouco, o último filme a ganhar um Oscar
nesta categoria e que custou menos de 100 milhões de dólares foi Matrix.
Matrix! Que revolucionou muita coisa em termos de filmagem e efeitos. O que
aconteceu agora foi que muito se falou que a Alicia Vikander deveria ter sido
indicada por este filme, o que fez com que muita gente fosse assistir
Ex-Machina para ver a atuação dela. Então, quando foram votar, lembraram-se dele
e resolveram dar o prêmio porque tinham visto o filme (não se enganem, a
maioria das pessoas que vota no Oscar não viu todos os filmes), ou por “culpa”,
por não terem indicado Alicia como melhor atriz.
E ei, só lembrando, esta não é a primeira vez que um ator
(ou atriz) ganha um prêmio mais pelo conjunto de sua obra do que pelo filme que
foi indicado. Vicander ganhou melhor atriz coadjuvante e Leonardo DiCaprio
ganhou por melhor ator. Eu disse que o Leo ganharia melhor ator porque tinha
que ganhar, pelo conjunto do que ele fez. E assim foi. Felizmente não tivemos
nenhuma surpresa ai.
Gostaria apenas de acrescentar que filmes como: Jurassic
World, Avengers: Age of Ultron, Ant-Man, Terminator Genesis, só para citar
alguns, não foram sequer indicados nesta categoria. Alguém duvida que haja
consideráveis efeitos especiais nestes filmes para que fossem indicados?
Voltando a Mad Max e Melhor Fotografia – O Regresso (The
Revenant). A Academia tem uma “tendência” a “distribuir” os Oscar, a tentar
equilibrar os prêmios entre os favoritos. E vendo o resultado final (O Regresso
não ganhou melhor filme como era esperado pela maioria), entende-se
perfeitamente porque levou um Oscar aqui. Mas que fique claro, a fotografia de
O Regresso é muito bonita, mas eu ainda daria a estatueta para Mad Max. Quem
viu os dois filmes vai entender melhor.
Muito bem, Mad Max cumpriu seu papel de levar a grande
maioria dos Oscar técnicos. Só acrescento que Mad Max ganhar a estatueta de
melhor figurino foi uma surpresa sim, não das maiores, mas foi uma surpresa.
Embora vendo a roupa que a Sandy Powell (responsável pelos figurinos de Carol e
Cinderela) usou no Oscar, eu não me admiro que ela não tenha ganho. Sei que uma
coisa não tem nada a ver com a outra, mas precisava comentar, quem viu, sabe do
que estou falando. Nesta categoria, o favorito era Cinderela, pois as roupas
foram mais elaboradas, mais bonitas. Carol, A Garota Dinamarquesa e O Regresso
apresentam roupas de épocas, muito bem pesquisadas e reproduzidas. Mad Max
apresenta roupas de fantasia, pois o filme não acontece em um universo
histórico e sim fantástico. Mas valeu, mais um para Mad Max. Fiquei feliz.
Roteiros: ganharam os que eram esperados, Spotlight como
melhor roteiro original e A Grande Aposta (The Big Short) como melhor roteiro
adaptado. Quem viu os filmes sabe que são filmes onde o roteiro é o que chama
atenção.
Filme estrangeiro: sem surpresas, ganhou O Filho de Saul.
Infelizmente não vi nenhum dos indicados nesta categoria, mas a estória do
Filho de Saul chama a atenção. O Holocausto, para mim, faz parte de temas que,
mesmo sendo repetitivos, devem ser mostrados para que nunca sejam esquecidos.
Para que os erros do passado não se repitam.
Melhor Animação: novamente sem surpresas, ganhou o favorito
Divertida Mente (Inside Out). O mesmo com Melhor Trilha Sonora: ganhou Os Oito
Odiados (The Hateful Eight – Ennio Morricone). Detalhe, o maestro teve o
respeito que merece, podendo fazer seu discurso de agradecimento na íntegra,
sem qualquer música entrar para atrapalhar. Respeito dos colegas vale muito!
Melhor Canção Original: surpresa aqui, a favorita “Til it
happens to you” perdeu para “Writing’s on the wall”, do 007 Spectre. Eu gostei
mais da música do Sam Smith, embora não ache que é o tipo de música para um
filme de 007, acho que a música deveria ser mais vibrante para combinar com a
ação do filme. O música da Lady Gaga tinha mais apelo por causa do filme para o
qual foi feita. No entanto, acabou não ganhando...
Melhor Documentário: ganhou o esperado, Amy, sobre Amy
Winehouse. Eu escolheria
“Cartel Land” ou “Winter on fire: Ukraine’s Fight for Freedom”. Infelizmente
eu não vi nenhum dos documentários indicados, embora pretenda assistir Winter
on Fire na Netflix.
Melhor Documentário Curta Metragem: ganhou um dos três que
eram mais favoritos – “A Girl in the River: The Price of Forgiveness”
(Paquistão x mulheres). Os outros que tinham mais chance eram Body Team 12 e
Claude Lanzmann: Spectress of the Shoah”. Eu escolheria “Chau, beyond the
lines”, novamente, infelizmente, pela estória, pois não vi nenhum dos
indicados.
Melhor Curta de Animação: surpresa, o favorito era “Sanjay’s
Super Team”, mas ganhou “Bear Story”, o meu favorito. Melhor Curta-Metragem:
ganhou o esperado – “Ave Maria”.
Meu comentário aqui refere-se ao que CK Louis disse quando
apresentou o prêmio de melhor documentário curta metragem: ele disse algo como
o Oscar para esta categoria realmente significa algo, pois quem faz esse tipo
de filme nunca vai ganhar muito dinheiro e ganhar um Oscar provavelmente é a
melhor coisa que vai acontecer na vida deles. Pensem a respeito, quem realmente
liga para estas quatro categorias, a não ser para tentar adivinhar quem vai
ganhar para apostar no bolão?
E agora vamos para o “creme de la creme”, ou seja, o que
mais esperamos ver no Oscar. Melhores atores, diretor e filme.
Comecemos por melhor diretor: ganhou quem era esperado, A
lejandro G. Iñárritu, por O Regresso (The Revenat).
Melhor atriz coadjuvante: também sem surpresas, Alicia
Vicander, por A Garota Dinamarquesa.
Melhor ator coadjuvante: surpresa aqui, pois o favorito era
o Stalone, que perdeu para Mark, não o Rufallo, que eu queria, mas o Rylance,
por a Ponte dos Espiões (Bridge of Spies). Mais ou menos aquela coisa de “temos
que dar um Oscar para o filme do Spielberg com o Tom Hanks”...
Melhor ator: Leo, Leo, Leo!!! Parabéns, valeu mesmo
academia, por reconhecer um ator que lutou muito para chegar onde está. Quem
viu os primeiros filmes de Leonardo DiCaprio e viu os últimos sabe do que estou
falando. Na foto, Kate Winslet abraça Leonardo DiCaprio após ele vencer o Oscar.
E agora, melhor filme. Confesso que quando ouvi Morgan
Freeman dizer Spotlight custei a acreditar no que ouvia, tanto que nem vi
direito os agradecimentos do pessoal. Foi surpresa, foi sim, esperava-se que O
Regresso ganhasse, ainda mais que Iñarritu e DiCaprio ganharam. Mas foi
Spotlight! Meu favorito. Dos indicados, só vi metade. Ainda pretendo ver os
outros quatro, mas do que vi e li, Spotlight continua sendo meu preferido. E
fiquei muito feliz porque depois de muito tempo a Academia escolheu um filme
bom como melhor filme. Na foto, Spotlight recebendo o Oscar.
Ano passado ganhou Birdman (não vi e nem vou ver); 2014: 12
anos de escravidão (além da Lupita alguém lembra algo significante deste filme,
além do terrível senhor de escravos Fassbender? E olha que você tem que ver o
“Full Cast” para achar o Fassbender lá pelo meio. A Lupita vem logo depois).
2013: Argo (estória legal, mas eu até hoje não tive vontade de ver de novo,
Spotlight já vi duas vezes). 2012: O Artista (filme bonitinho, mas mudo, em
preto e branco, em pelo século XX? Lembrado este ano, porque o cachorrinho
morreu e não foi lembrado no “In Memoriam”). 2011: O Discurso do Rei (gostei).
Finalmente: “In Memoriam” – infelizmente, como sempre, a
Academia esqueceu muita gente. Deixo o link aqui para verem uma lista mais
completa daqueles que nos deixaram entre um Oscar e outro (Fevereiro de 2015 a
Fevereiro de 2016): http://www.imdb.com/awards-central/oscars-in-memoriam-2016/ls033336951?pf_rd_m=A2FGELUUNOQJNL&pf_rd_p=2418601722&pf_rd_r=1XP4G3HA52KFKBQFM4JH&pf_rd_s=center-7&pf_rd_t=15061&pf_rd_i=homepage&ref_=hm_ac_acd_im_sm
Aliás, prestem atenção este ano, a quantidade de artistas
que já se foram está sendo significativa, pois praticamente todo dia que olho o
IMDb vejo que mais um se foi. Ontem, foi George Kennedy...
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